17 de nov. de 2009

Barão do Rio Branco

José Maria da Silva Paranhos Júnior, conhecido como Barão do Rio Branco, nasceu no dia 20 de abril de 1845. Foi Advogado, Político, Jornalista, Diplomata, Ministro do Estado, Geógrafo e Historiador Brasileiro. Filho de Teresa de Figueiredo Faria e José Maria da Silva Paranhos, que abriu caminho para o sucesso do filho por ter sido um homem notável do Segundo Império; Deputado; Plenipotenciário brasileiro no Uruguai; Ministro da Marinha e dos Negócios Estrangeiros; Senador; Primeiro Ministro e Visconde do Rio Branco. Alguns dos grandes feitos do Visconde foram: finalização do fim da Guerra do Paraguai em 1869; e a promulgação da Lei do Ventre Livre.
Paranhos Júnior era conhecido como Juca quando iniciou os estudos no Rio de Janeiro, no Imperial Colégio Dom Pedro II. Revelou já nesta época a vocação para estudos históricos e geográficos, escreveu após sua conclusão de curso sobre Luís Barroso Pereira “Episódios da Guerra do Prata”. Outro de seus estudos foi “Esboço Bibliográfico do General José de Abreu – Barão de Serro Largo”, entregue ao Instituto Histórico. Diante do interesse no curso de Direito, mudou-se para São Paulo aos 17 anos e finalizou o curso em Recife. Foi Bacharel em 1866 e viajou para a Europa. Era abolicionista como o pai e defensor da emancipação dos escravos. Foi Presidente perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e membro da Academia Brasileira de Letras. O Barão era um homem muito sagaz e determinado, mantinha o foco em todas as suas missões.
Era muito integrado aos valores e acontecimentos de sua época. Época em que o território era a principal fonte de poder de um país, o que levou o Barão a conquistar para o Brasil um território de 900 mil quilômetros quadrados através da diplomacia. Graças a ele a integração regional da América do Sul se desenvolveu sem conflitos devastadores. Foi o responsável pela a modernização das ações da Chancelaria brasileira, não através de mudanças nos métodos burocráticos de trabalho, mas da mudança no comportamento da diplomacia brasileira; forma de argumentação e principalmente pela passividade ao tratar as negociações com o exterior. Apesar dos seus conceitos tradicionalistas, o Barão conseguia tratar seus negócios com modernidade.
Iniciou o processo de consolidação das fronteiras do Brasil, sendo a primeira delas a fronteira do Prata. Se foi predestinação ou não, é uma questão de crença do próprio leitor, mas já aos sete anos o Barão havia feito a sua primeira viagem estrangeira até a região, como acompanhante de seu pai. Desde então ele já demonstrava interesse pelos trabalhos do Visconde, o qual considerava o segundo “maior dos brasileiros”, e o acompanhava em suas missões.
Diferente do Visconde, o Barão não tinha gosto pela política interna, sentia-se mais atraídos pelos estudos históricos, geográficos e a política externa. Possuía uma imensa quantidade de mapas, descrições de batalhas e outros materiais de pesquisas. Tinha uma visão liberalista política, devido aos seus estudos no curso de Direito. Era pacífico e defensor das negociações, não concordava com o uso exagerado do poder e da força militar. Poucos sabiam lidar com a imprensa como o Barão, tampouco sabiam usá-la como arma política. O conhecimento pela cartografia colaborou para os seus conhecimentos nas áreas de interesse do Brasil em relação às negociações com o exterior.
Segundo Álvaro Lins “O que fez a Grandeza do Barão foi ter associado a ciência e a arte da diplomacia”, ou seja, a imaginação à criação. Seu lema era “em toda parte me lembro da pátria”. Honrou esse lema tornando-se útil à nação brasileira sempre que possível, serviu em todos os momentos difíceis como estadista eminente.
Recém formado em Direito e após publicar a biografia do comandante do Navio Imperatriz (chamado Barroso Pereira), e alguns episódios da Guerra do Prata na Revista Popular, Juca decidiu embarcar para a Europa com o dinheiro que havia ganho – na época doze contos de reis – na loteria.
Quando retornou foi nomeado professor da disciplina de História do Brasil, na escola em que havia estudado quando adolescente.
Devido ao prestígio de seu pai, o Visconde, Juca foi eleito no ano de 1869, deputado geral pelo Mato Grosso. Depois da Lei do Ventre Livre, Juca preocupou-se com um jornal, do qual ele virou redator, denominado “A Nação”, que passou por altos e baixos, mas marcou uma parte da vida de Rio Branco, principalmente pelas fortes amizades que trouxe - por exemplo - Gusmão Lobo e Duque de Caxias.
Apesar de ter uma vida profissional de sucesso, a sua vida pessoal não agradava nenhum pouco a seu pai, pois Juca era um boêmio que costumava freqüentar os mais badalados cafés da época. Em uma de suas saídas, conheceu quem seria sua mulher, uma dançarina belga chamada Marie Philomène. Não demorou muito para todos começarem a comentar sobre o romance de Juca com a tal dançarina, que por óbvio, não estava à altura de um homem como ele. A fofoca foi tamanha que, em 1873, Marie embargou grávida para a França praticamente obrigada pelo pai de Juca, na época era chefe do gabinete ministerial. Lá nasceu Raul, o primeiro dos cinco filhos de Juca e Marie. Mesmo contra a vontade de seu pai, ele chamou sua mulher e filho para o Brasil novamente.
A questão Argentina versus Paraguai provocou o primeiro encontro entre o Barão e Estanislau Zeballos, que seriam conhecidos inimigos no futuro e que na época já mostravam disparidades, um era redator de “A Nação” e o outro do “El Nacional”; ambos jovens – Paranhos com trinta anos e Zeballos com vinte e um.
Quando escrevera sobre a precipitada partida de Carlos Tejedor, que nem se despediu de D. Pedro II, Juca - a fim de atenuar o possível ressentimento da nação - disse:

“No fato que tantos comentários têm suscitado não houve, a nosso ver, nenhuma ofensa intencional ao Brasil. Houve apenas gaucherie.” (LINS. Rio Branco Pg. 79)

Zeballos traduziu o termo publicado por Paranhos erroneamente e ainda o publicou em sua folha dizendo:

“Um dos jornais mais importantes do Brasil qualificou de gaucheria a retirada do Sr. Tejedor. Este modo de exprimir-se não é mais do que uma macacada de má lei. É melhor ser gaúcho do que macaco.” (Id. Ibid. Pg. 79).

Alguns dias após a publicação de Zeballos, Paranhos o respondeu à altura:

“Se o escritor que traçou estas linhas tivesse aprendido o francês conheceria a significação da palavra gaucherie, e não acreditaria ingenuamente que ela tem relação com o que nós diríamos, em português, gauchada.” (Id. Ibid. Pg. 80).

O Jornal “La Libertad” já havia feito a defesa de “A Nação”, mostrando o equívoco que o “El Nacional” havia cometido. Paranhos e Zeballos ainda nem se conheciam e só saberiam anos mais tarde que já haviam se conflitado, mesmo que indiretamente, muito antes da questão de Palmas.
É óbvio que, como uma figura importante para seu país, Paranhos colocava o Estado acima da religião ou de qualquer igreja. Desde 1871 ele era membro da Maçonaria, para ele a Maçonaria era uma sociedade de beneficência, cujos estatutos vedam toda discussão sobre assuntos religiosos. Apesar disso, em seu gabinete na Europa ele mantinha uma imagem de Cristo e se confessava católico, o que não era um problema ou pecado muito grande, em especial no Brasil, pois tinha uma feição especial pela Maçonaria. Mesmo sendo uma seita condenada pela Igreja, aqui era íntima dos católicos. Muitos padres eram membros da Maçonaria e o apregoavam sem nenhum constrangimento, assim como os grandes políticos do Império.

Mesmo sem concordar com as suas atitudes, o pai de Paranhos o apoiou totalmente para assumir o cargo de cônsul na cidade de Liverpool, na Inglaterra em 1876.
Enquanto cônsul, por quase vinte anos na cidade inglesa, muitas estórias e episódios foram contados sobre o Barão. Como adorava a vida boemia, ele não saía de Paris, que ficava a quinze horas de Liverpool, mas visitava com freqüência a cidade por outros motivos: sua mulher, filho e alguns ótimos amigos moravam ali. Fora estes motivos, havia ainda outro: a cidade onde ele exercia a função de cônsul era conhecida como melancólica e culturalmente pobre, enquanto Paris estava muito a frente daquela em todos os sentidos, ainda mais para um famoso boêmio como Juca.
Mas se Liverpool era tão atrasada e nem se comparava com outras cidades, como citado, o que fez Juca por quase vinte anos neste lugar?
Naquela época Liverpool era o maior porto do mundo, uma vez que agora a Inglaterra estava em plena industrialização, ainda mais na indústria têxtil (que era seu forte no momento). Somente para o Brasil saíam cerca de cento e cinqüenta navios a cada três meses, e um número próximo a esse chegava também do Brasil no porto com algodão e café. O Barão era chamado para vistoriar as mercadorias que chagavam e confirmar possíveis fraudes por conta da “esperteza” que os comerciantes brasileiros tinham frente aos ingleses. No caso do algodão, por exemplo, as sacas costumavam sair do Brasil com pedras misturadas ao produto. Certa vez achou uma pedra com aproximadamente trinta quilos misturada em uma saca. Esses e outros episódios envergonhavam plenamente o Barão perante os importadores ingleses, que ficavam indignados. Reclamações chegavam também por conta da má qualidade do algodão brasileiro, o que tornava mais difícil convencer os ingleses de que no Brasil se produzia o melhor café do mundo. O Barão escrevia relatórios e os mandava para o governo e fazendeiros brasileiros pedindo que estes melhorassem a qualidade dos produtos de origem brasileira.
As funções consulares foram exercidas com extrema eficiência pelo Barão. Quando ele chegou, o Consulado estava desfalcado e em plena desordem. Não havia um móvel sequer, todos os materiais eram raros ou estavam em falta, assim como os relatórios do Ministério que naquele momento estavam incompletos. Uma curiosidade sobre o Barão no consulado é que ele não tinha uma rotina de estabelecida. Ás vezes trabalhava cerca de dez horas seguidas, com a ajuda de cafés e cigarros, em outros momentos, apenas chegava ao consulado por volta do meio dia. Todo trimestre Juca enviava ao Rio de Janeiro um relatório completo e minucioso sobre as relações comerciais e marítimas entre seu país e a Inglaterra; e também entre a Inglaterra e o resto do mundo. Em seu tempo livre procurava mapas, arquivos e/ou documentos nas bibliotecas e sebos de Paris para enriquecer sua memória e, mais tarde, ajudar seu país.
Para que um país possuísse uma certa estabilidade e uma soberania segura, ele deveria ter as questões de limites bem resolvidas e determinadas. E foi o Barão do Rio Branco que deu grandes passos em relação a esse assunto.
Portanto, os anos de 1893 a 1895 foram marcados na vida de Juca Paranhos pela viagem feita a Washington, para resolver questões territoriais com a Argentina. Essa discussão se deu devido a duvida da posse do terreno de rios, que desaguavam em território brasileiro e argentino. O caso foi julgado frente ao presidente norte americano Grover Cleveland, que, através de documentos antigos apresentados pelo Barão, deu a vitória ao Brasil. Devido a essa vitória, Rio Branco foi muito prestigiado e recebeu telegramas de agradecimento de inúmeros cidadãos de renome, como o ex-presidente Floria no Peixoto.
Sua próxima missão foi a de lutar diplomaticamente com a França, em relação aos limites do Amapá com a Guiana Francesa (Questão do Amapá). Dessa vez a negociação era contra uma potência, mas mesmo assim “Juca” buscou incessantemente formas de trazer a vitória à nossa nação.
No dia 1º de setembro de 1900 a notícia foi recebida e, representantes da Suíça (país que foi incumbido de julgar o caso), decidiram pela vitória brasileira (na cidade de Berna). Foi nesse momento, aos 55 anos de idade, que José Maria da Silva Paranhos teria seu nome consagrado.
Em meio as duas vitórias, no ano de 1898, o Barão do Rio Branco perdeu a sua companheira Marie Philomène Stevens, que faleceu aos 48 anos. O casal viveu poucos anos de felicidade, em prova desse fato a senhora Stevens escreveu, um ano antes de sua morte, uma carta aos filhos, na qual se queixava do casamento falido. Logo após a morte de sua esposa, Rio Branco Junior perdeu mais alguns amigos queridos. (Gusmão Lobo, José Avelino, Rodolfo Dantas, Eduardo Prado).
O Barão do Rio Branco recebeu alguns prêmios em dinheiro do governo, tal fato o deixou muito feliz porque poderia investir na educação de seus filhos, o que era muito importante para ele. Mais tarde teve a oportunidade de escolher entre ir para Lisboa ou para Berlin.
Surpreendendo a todos, escolheu ministrar na Alemanha no ano de 1900. Mas a sua passagem pelo país foi rápida e não passou de dois anos. O Barão do rio Branco recebeu um telegrama no dia 6 de julho de 1902, no qual dizia: “Rodrigues Alves deseja confiar-lhe a pasta do Exterior e encarregou-me de consultá-lo, esperando em seu patriotismo não recusar. São esses também os meus votos. Campos Sales”. Então resolveu aceitar. Chegou ao Brasil no dia 1º de dezembro do mesmo ano com uma recepção fervorosa. Logo que tomou posse se viu diante de dois grandes problemas: A Questão do Acre e a necessidade de uma reforma do Ministério. A reforma interna era necessária para que conseguisse realizar o seu trabalho, defendia a idéia de contratar mais gente que fosse qualificada para diversas funções, melhorar a remuneração, criar uma boa biblioteca (como na França, na Alemanha e na Inglaterra), entre outras tantas mudanças desejadas por ele.