8 de jun. de 2009

A Desordem do Progresso (Cristovam Buarque)

O valor da natureza

Cristovam Buarque explica a relação entre o meio ambiente e a economia, ele diz que cada indivíduo biológico sobrevive na natureza da mesma forma, diretamente pelo processo de alimentação. Diferente do ser humano, pois eles aproveitam-se da natureza para produzir outros tipos de objetos que deixam de ser naturais e são chamados então de "bens econômicos". Além da possibilidade que eles têm de lutar pela sobrevivência com uma certa vantagem de tempo, proporcionada pelos próprios objetos criados e também pela cooperação entre eles. Podem gastar esse tempo extra em atividades culturais ou para criar mais produtos. Graças a esse processo, surge o problema ecológico pelo fato de o homem não considerar a si e a seus produtos como parte da natureza.
Como sabemos, a natureza tem um processo automático que equilibra a reprodução e a sobrevivência das espécies. E, segundo o autor, foi a partir de todas essas considerações que surgiu a idéia de que a terra é um organismo vivo e gigante e que cada organismo que a compõe faz parte de um todo, chamado de "Gaia". Algumas considerações como: cada ser agir individualmente; o homem como centro de tudo; e a representação de um Deus, trouxeram a idéia de propósito inteligente para a vida no planeta.
Ao mesmo tempo em que a idéia de Gaia volta a ser considerada, surge outra de que o processo econômico, devido a sua dimensão, prejudica o sistema do organismo gigante, E a consequência disso é que pela primeira vez, o desequilíbrio do organismo seria causa de uma das suas próprias espécies.
Os efeitos do processo econômico podem ser observados de duas formas.
Extinção de recursos naturais; os recursos não são sempre os mesmos, depende de qual é necessário para os processos tecnológicos em andamento, eles causam impacto ecológico nos recursos naturais e podem ser solucionados naturalmente, caso tenha uma grande quantidade de reservas do recurso; ou pode ter uma solução através da inovação tecnológica, ao reciclar os produtos e reutilizar os recursos. Pode também ser substituído por um outro equivalente e mais eficiente, a redução do consumo.
O lado da poluição; o processo produtivo gera impactos poluentes através do produto que cria. Podem ser impactos sociais; mal cheiro, ruídos e contaminação da água e do ar, impactos econômicos; destruição de recursos a curto e longo prazo, e impactos biológicos; surgimento de novas doenças, destruição de espécies por causa das hidrelétricas e a produção química e petroquímica ao redor de parques industriais. O valor da natureza não é considerado pelos economistas, somente por filosofos e físicos.

A visão otimista então, prevalece na teoria econômica. Escolas economicas resistem a reconhecer os valores da natureza em si. A teoria Neoclassica acredita que peços dos bens e dos insumos dependem somente da sua oferta e demanda e que o uso ou não de um produto poluente é decidido pelo próprio consumidor. Mas de acordo com a opinião de Buarque, isso só seria possível caso a sociedade acordasse em manter o equilíbrio natural. Mesmo assim, a opção ecológica está nas mãos das lideranças políticas com expectativas ideológicas.
Os empresários, ao mesmo tempo em que querem aumentar seus empreendimentos, não podem se preocupar com o meio ambiente, ainda que tenham mais consciência do que economistas. Para que pudessem conciliar as duas situações, seria necessário uma organização social de mudanças globais nos padrões sociais. Essa questão não pode partir de economistas porque eles consideram, acima de tudo, o bem estar do consumidor. Assim é mantida a teoria Neoclassica.
Para os Neoclássicos, a substituição seria o recurso para a inesgotabilidade, pois assim pode-se criar tudo o que desejar, no tempo em que desejar. Tanto para eles quanto para os Marxistas, a inesgotabilidade era um pensamento pessimista e sem justificativa. não havendo necessidade de incluir o problema do meio ambiente nas análises das escolas.

Será que esses pensamentos justificam o fato de a sociedade ocidental tratar a natureza com tanto desprezo? Poucos pensadores ou poetas dedicam um pensamento com mais respeito a ela. E a visão pessimista volta a partir da percepção do risco de destruição e não da simples descoberta do meio ambiente. Essa descoberta do meio ambiente não parte de economistas, mas de constatações de riscos resultantes do crescimento econômico e suas consequências.
No terceiro mundo, não poderia se manter uma visão pessimista, então surge o argumento de que a preocupação com o meio ambiente era parte de uma estratégia para impedir o desenvolvimento de países através dos avanços tecnológicos. Poucos economistas deram importância ao problema ecológico, mas chamaram atenção ao assunto que até então era insignificante e causaram uma explosão de trabalhos, ainda assim, mais por modismo do que por preocupação com o meio ambiente.
Criou-se então quatro níveis de consciência e conhecimento: nível técnico, teorias e ferramentas de análise que permitiram formulação de modelos globais do mundo e dados estatísticos de consumo e produção; nível da consciência coletiva, devido a percepção de desastres ecológicos decorrentes do alto nível de consumo e produção e o desperdício da sociedade moderna; nível político, a elevação nos preços dos recursos através do argumento de que se esgotaria em breve; e o nível ideológico, decorrente dos movimentos hippies e beatniks.

Quais os motivos que dificultam tanto a natureza de ser incluída nos projetos econômicos? A ciência é limitada, portanto não dispôe de instrumentos que permitam esta introdução por nove fatores: o crescimento demográfico e seu impacto econômico, que aumenta as necessidades e força os setores produtivos a trabalhar mais e procurar mais recursos, considera-se aí o consumoindividual e não o valor global da população; a articulação sócio-econômica e seu impacto sobre o meio ambiente, resultante dos padrões de consumo, estrutura urbana, valores culturais, nível de inovação técnica e outros costumes da sociedade, pois este problema não pode ser visto como puramente econômico; o aparato tecnológico e os efeitos sobre o meio ambiente, toda tecnologia possui características poluentes e depredadoras, principalmente as tecnologias importadas de países mais desenvolvidos, pois o país importador não tem recursos para combater a poluição; o problema do preço na escassez real, não há como saber até quando os recursos estarão disponíveis na natureza, consequentemente não há como saber a definição do preço deste recurso no futuro; as dificuldades dos impactos intangíveis, os impactos de um projeto que não tenham um valor econômico, como a destruição do meio ambiente, não são levados em conta por não serem quantificáveis; a visão nacional, a contabilização econômica é feita somente a nível nacional e não em relação a um conjuto de nações, se uma nação está ou não prejudicando outra através do seu crescimento tecnológico; o horizonte temporal, o tempo deveria ser considerado a curto e a longo prazo, mas enquanto a ciência econômica estiver preocupada com a maximização dos interesses individuais, não será possível incluir o longo prazo em suas análises; a medição da essencialidade, a ciência econômica assume o processo econômico de produção como uma razão em si e não considera os objetos de sua finalidade e nem todo o resto do processo; a prisão do paradigma, junto aos limites que amarram a ciência econômica a um passado, está o limite maior da economia prisioneira do paradigma social e civilizatório do consumo, impedindo a tentativa de utilizarem-se novos padrões.

Seria possível uma nova formulação que permitisse a incorporação da natureza na ciência econômica? Qualquer situação que considere a proteção do meio ambiente é prejudicial para a produção e o consumo. Portanto aos economistas só resta escolher entre a proteção ou o consumo. Talvez com muito trabalho e tempo de aperfeiçoamento seja possível criar uma nova maneira de pruduzir sem atingir o meio ambiente, e não será prejudicial a ciência econômica porque se desenvolverá justamente pelo seu avanço.

Nesse momento a economia entraria em colapso sem a existência dos serviços prestados pela natureza, portanto é necessário que todos os projetos sejam analisados a fim de não destruir os recursos naturais e os serviços que o ecossistema oferecem. Por esse motivo uma equipe de pesquizadores estimulam valores aos serviços que são proporcionados pelo meio ambiente, embora ainda não seja possível fazer uma análise do valor total destes serviços. Assim, qualquer decisão pelo uso da terra pode ser analisado anteriormente e será mais fácil concluir se vale a pena ou não se utilizar de determinado recurso.
Embora seja necessário preservar o meio ambiente, não há outra alternativa que não a exploração dos serviços ambientais, então por que não fazê-los com consciência?
Enfim, a grande maioria não para para pensar no bem do planeta como um todo sem antes pensar no bem próprio, e isso diz respeito tanto ao consumidor quanto ao produtor.